[encerrado] CURSO ONLINE | políticas de escuta: artes sonoras, ecos e ressonâncias

com Daniela Avellar

Simon Fernandes, Não é o silêncio que se move, 2013-2018

Simon Fernandes, Não é o silêncio que se move, 2013-2018

SOBRE O CURSO

Este curso posiciona a escuta como uma ferramenta, um modo de aproximação do mundo e de seus objetos e signos. Ao fazê-lo, acaba empreendendo uma crítica, através de conversas coletivas, em torno da visualidade. Isso a partir do fato de que historicamente existe um privilégio da inscrição visual sob outras formas de percepção, o que carrega diversos problemas epistemológicos. Não se trata aqui de defender a escuta como uma chave que nos levará necessariamente a um mundo melhor, mas dar chance a outras formas de conhecer e diferentes registros sensíveis que são capazes de expandir os modos de ação, assim como criar conexão com um domínio da invisibilidade, aquele que está abaixo de uma dominante organização visual de mundo e habita zonas recônditas que serão ativadas pelas conversas e assuntos trazidos ao curso. A história da arte lida com um conceito de imagem e paisagem impregnados pelo gesto ocular, embora desde a década de 90 seja cada vez mais frequente um interesse e exploração do som enquanto ferramenta conceitual para diferentes poéticas. Busco trazer trabalhos identificados com o campo da arte sonora e suas adjacências, pensando em como seus aspectos são capazes de perturbar essas noções cristalizadas, assim como ideias de autores que se afinam com os temas.

CONTEÚDO

  • Aula 1: Invisibilidades ressonantes

Neste primeiro encontro, discutiremos a questão da visibilidade como paradigmática para pensar participação política e inserção no espaço público. Para tal, recorreremos à noção de espaço de aparência trazida por Hannah Arendt e as críticas ao conceito empreendidas por Judith Butler. Dinâmicas de invisibilidade aparecem aqui como algo que problematiza e complexifica a agência da visibilidade e aparência, ora gerando rotas de fuga e ora apontando a existência de um mundo oculto, onde visualidades sombreadas persistem. Apresentaremos o trabalho Monument Against Fascism (1986), de Esther e Joschen Gerz, para pensar a ideia de um contra-monumento em desaparecimento (invisibilidade); Ensacamento, do coletivo 3NÓS3, por contribuir na discussão sobre monumento, domínio público, memória e visibilidade; bem como Rubber Coated Steel, um trabalho alegadamente em contato com o campo da arte sonora, do artista Lawrence Abu Ramdan, que posiciona o espectador em uma dinâmica onde a escuta aparece enquanto gesto produtivo e político. Abu Ramdan trabalha com arquitetura forense e realiza uma investigação sonora de um assassinato ocorrido contra jovens palestinos. Em seu trabalho, questões referentes a conflitos do Oriente Médio estão presentes, evocando aspectos como visibilidade/invisibilidade e participação política.

  • Aula 2: Vozes acusmáticas

Neste segundo encontro, apresentaremos a noção de escuta acusmática, introduzida pelo teórico Pierre Schaeffer, que consiste em uma sugestão de prática de escuta que desassocia a produção sonora de uma fonte específica. O conceito é utilizado pela música eletroacústica e pelo cinema (para tal, utilizaremos o trabalho do compositor Michel Chion). O som, no caso, deve ser ouvido enquanto um objeto sonoro - isto é, deve-se ter atenção aos seus aspectos materiais, em termos de volumes e texturas. A proposição surge quando as tecnologias de gravação e transmissão sonora que existem hoje não estavam naturalizadas no cotidiano. Hoje, sabemos que uma matéria sonora desliza de sua fonte, se desprendendo de um contexto específico. Do que vale pensar a acusmática hoje e quais seriam os objetos sonoros contemporâneos? Apresentaremos o coletivo Ultra-Red, que começa a produzir nos anos 90 em contato direto com a militância em torno do HIV/Aids e expande seu trabalho para outras lutas, como a luta por moradia, imigração, comunidade LGBTQIA+. O Ultra-Red positiva a acusmática, gerando protocolos de escuta a serem seguidos em situações de grupo e escuta coletiva, desenvolvendo uma relação também com domínios pedagógicos de instituições de arte. 

  • Aula 3: Itinerâncias em eco

Neste terceiro encontro, apresentaremos mais um trabalho de Lawrence Abu Hamdan, no caso All hearing, que aborda a questão da cidade do Cairo ser uma das mais ruidosas do mundo; também traremos dois álbuns de música experimental gravados em 2020 em consonância com o movimento Black Lives Matter (Frozen, de Klein e Black Nationalist Weaponry, de Speaker Music). No primeiro, questões como apropriação cultural, tecnologia e mídias estão presentes; no segundo, o atributo do silêncio apresenta-se como paradigmático dentro da produção sonora. Neste encontro, ruído e silêncio são tomados como aspectos para discorrer sobre uma certa condição itinerante da subjetividade hoje, desalojada de seu próprio lugar por conta da agenda neoliberal que domina ideologicamente o mundo e pelo fato de se encontrar enredada num grande aparato que é a rede composta pelas interfaces comunicacionais digitais. Para discutir essas questões em consonância, traremos os autores Franco "Bifo" Berardi e suas críticas sobre os automatismos contemporâneos, e Nick Couldry com seu livro Why voice matters?.

  • Aula 4: Fragilidade e vigor

No quarto e último encontro, discutiremos uma certa condição de fragilidade do som. O atributo frágil é pensado aqui a partir de autoras como Bell Hooks (a partir de suas práticas pedagócias) e Audre Lorde (a partir da sua ideia de erotismo). A escuta aparece como um gesto fundamental para a constituição de espaços comuns e de partilha. Tomaremos a política, neste encontro, como algo que não está longe da subjetividade e das experiências de cada um. Falaremos sobre intensidades particulares encontradas nas sonoridades e utilizaremos o conceito de envelope sonoro do psicanalista Didier Anzieu. Fragilidade, fraqueza e vulnerabilidade acabam sendo positivadas enquanto atributos de força, ainda que sejam uma potência em reformulação, e vistas como condições de sustentação da produção sonora e portanto da atividade da escuta, o que encontra profundas e ricas articulações com a especulação do que queremos e desejamos em relação à democracia e à constituição da esfera pública participativa. Escuta é colocada, portanto, como uma atividade eminentemente política onde o apelo por uma liberdade de escuta aponta para a necessária incorporação ruidosa e cacofônica de uma pluralidade de vozes partilhando de um espaço comum.

SOBRE A PROPONENTE

Daniela Avellar é graduada em Psicologia, Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense e Doutoranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi propositora do curso "Da partitura à ação" (2020), ocorrido no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (RJ). Ministrou, como professora estagiária, a disciplina "Fricções entre audível e visível" (2019) para a graduação em Artes Visuais da Universidade Federal Fluminense. Coordenou e organizou, em parceria com Rui Chaves, o curso “Diagramas sonoros: comunidade, imaginação sônica e intervenções gráficas no espaço urbano” (2021) na Universidade Federal da Paraíba. Escreve frequentemente textos para publicações, exposições e revistas. Foi co-curadora da exposição "Somarumor" (2019), sobre Arte Sonora na América Latina; foi curadora da exposição "Modos rítmicos: algo", no Centro Cultural de Artes da UFF (2018); realizou o acompanhamento crítico do Programa de Residência para artistas Ciclo II (2021) promovido pela Galeria Refresco (RJ). Acesse o Lattes


INFORMAÇÕES

datas: 09, 16, 23 e 30 de Agosto de 2021

horário: Segundas-feiras, das 19h às 21h

carga horária: 4 encontros de 2h cada / 08h totais

acesso: Utilizamos a plataforma Zoom® para os encontros virtuais; o link para acesso é enviado no dia anterior ao início das aulas. Cadastre gratuitamente pelo site ou baixe o App Zoom.

investimento: R$ 240

vagas limitadas


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Converse com a gente! Envie um e-mail para luxespacodearte@gmail.com

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