exposição física | psicodeflação

Mariana Lima, Neiliane Araujo e Rita Jardim

A exposição híbrida Psicodeflação chega em seu segundo ciclo com a mostra presencial no Edifício Vera, em parceria com o Lux Espaço de Arte. No período de junho a setembro de 2021, a artista visual Débora Bolsoni ministrou uma série de encontros virtuais intitulada Papo de artista: acompanhamento processual entre artistas visuais. Nesses encontros, o contexto pandêmico, impondo o isolamento social e o ambiente virtual, foi o suporte para as discussões e produções, criando pontes diretas com as “Crônicas da Psicodeflação” do filósofo Franco Bifo Berardi.

“Crônicas da Psicodeflação” reúne um conjunto de reflexões sobre o colapso da ordem social resultante da pandemia de COVID-19, escritas na forma de diário, em confinamento, e publicadas online. Para o autor, o nosso psicológico vem experimentando uma “deflação”, no sentido de uma bola que está soltando ar, caindo no chão, flácida, e também no sentido econômico de diminuição da demanda. É esta a hipótese de onde partem as “Crônicas” de Berardi, escritas entre fevereiro e maio de 2020.

A frase “O efeito (último) do vírus está na paralisia relacional que ajuda a espalhar”, retirada do relato do dia 2 de março, foi o principal disparador para o desenvolvimento das produções das artistas. Bolsoni pediu para que cada artista tentasse dar uma resposta a essa frase, como um possível antídoto à paralisia relacional resultante do vírus, levando-as a imaginar e produzir diversos cenários, onde o automatismo entra em conflito gerando interações inesperadas. Para o filósofo Bifo, é nesse momento que podemos reativar o futuro como um espaço de possibilidades que não era mais cabível; uma quebra dentro do curso da previsibilidade.

Nessa etapa física da mostra, as artistas Mariana Lima, Neiliane Araujo e Rita Jardim embarcam no retorno do corpo às interações presenciais. Entretanto, ainda há o medo e a insegurança perante um contexto de vulnerabilidade da saúde pública, gerando a reconfiguração das nossas condutas psicológicas, interferindo não somente na esfera biológica, mas na psicosfera, no sentido de reformular as condutas de distanciamento e temor perante a aproximação - dentro da visão de Berardi.

A obra Elo Alinhado, de Rita Jardim, ilustra as esferas biológica e psicológica causadas pelo vírus na disposição dos pregos nas paredes, uma vez que eles são os pontos de contato de uma linha invisível que extrapolam os próprios limites, tangenciando as obras de Neiliane e Mariana. A simbologia da “conectividade” remete também, de forma direta, a própria relação com o universo online, a experiência da simbiose digital como processo coletivo na concepção dos conceitos.

Já a instalação Continue ligando os pontos da sua rede, projeto em desenvolvimento de Neiliane Araujo, apropria-se das paredes da sala, com um grid de pontos. A proposta pede a participação do público, em que os pontos devem ser ligados criando conexões, somando as camadas de coexistência de diversas experiências em um mesmo desenho. Essas diversas linhas no espaço aludem às conexões e redes dos relacionamentos entre as pessoas, inclusive, a saturação da hiperconectividade.

Mariana apresenta a obra textemic Destaque Seu Dia: os blocos de papel pendurados linearmente remetem a pequenos calendários de arrancar as páginas, porém ao invés de datas, há letras. A cada página/letra que se retira, outra surge em uma tentativa errática de se criar palavras. Nessa obra, o visitante alimenta a simulação algorítmica do erro e as fissuras do inesperado. À medida que os blocos vão diminuindo, a cada tentativa de criação, surge também o sentimento de colapso iminente, quando se sabe que em algum momento, as possibilidades estarão esgotadas, assim que as folhas acabarem.

A Psicodeflação busca mostrar os curto-circuitos que a pandemia apresentou perante as condutas do cotidiano e dos diversos cenários de crise que a hiperconectividade dos relacionamentos humanos evidencia, impactando a comunicação afetiva e o processo criativo de cada artista. A mostra, entretanto, exalta a fissura crítica que pode reativar o futuro - ou futuraliedades, como Bifo nomeia - em meio a esse momento de abertura e medos perante as novas possibilidades e reconfiguradores de vidas.

Camila Marchiori

Fotos por Helena Marc

SERVIÇO

Exposição: Psicodeflação
Artistas: Mariana Lima, Neiliane Araujo e Rita Jardim
Organização: Débora Bolsoni
Texto crítico: Camila Marchiori

Visitação de 29.01.22 a 12.03.22

Lux Espaço de Arte
Edifício Vera: Rua Álvares Penteado, 87
Quinto andar | Sala 07
Centro | São Paulo SP

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