mostra presencial | videolatinas
Beatriz Toledo, Bianca Turner, Camila Fontenele, Carla Chaim, Danilo Reis, Emy Lobo, Fernanda Pujol, Gabriela De Laurentiis, Helena Marc, Luisa Sequeira, Maíra Freitas, Manuela Leite, Márcia Beatriz Granero, Railane Matos e Sabrina Xavier
Com curadoria de Khadyg Fares e Vivian Berto, a mostra deriva do curso homônimo oferecido no Lux em 2021, que abordou histórica e conceitualmente a produção das artistas latinoamericanas da videoarte. A atividade gerou a proposição de produção e compartilhamento de obras recentes dos participantes, entre artistas iniciantes e consagrados. Apesar de seus trabalhos serem muitos diversos, é possível perceber vários pontos de convergência entre as obras, como o diálogo intenso com a historiografia das videoartistas latinoamericanas e principalmente a valorização do corpo, sobre o qual existem muitos conceitos sociais e culturais que merecem reflexões mais aprofundadas em tempos de exposição mediática superficial.
Parece que a videoarte bate de um jeito diferente agora.
O vídeo tornou-se o meio pelo qual pudemos experienciar o mundo. Dos intermináveis catálogos dos serviços de streaming, passando por danças coreografadas em redes sociais, incluindo as exposições que foram transmutadas ao espaço digital, até reuniões via videoconferência para os trabalhadores burocráticos de escritórios e outros espaços fechados (os únicos que tinham a possibilidade de seguir o mote “fique em casa”): tela para ver o mundo e se ver dominou de certa forma a vida.
A tomada do vídeo foi especialmente impactante no campo das artes. Quantas e quantos artistas passaram a usar o vídeo para se expressar, ou então como uma forma de sobrevivência num momento em que reunir pessoas se tornou uma atividade de risco?
A reflexão sobre a experiência cotidiana com o vídeo e essa vivência com a tela que tudo toma atravessou o curso VIDEOLATINAS: A videoarte das artistas na América Latina. Os encontros aconteceram entre abril e maio deste ano através de uma plataforma de videoconferência, recurso que tornou possível esse curso. O espaço virtual foi também o local onde a própria exposição esteve hospedada, o site do Lux. Pensar como as artistas de nosso continente interpretaram, utilizaram, dialogaram, desafiaram e até mesmo brincaram com o vídeo toma novas proporções a partir da maneira como lidamos com as telas hoje. Quando víamos os rostos das pessoas dialogando com a câmera na cabine em Parabolic People (1991), de Sandra Kogut, será que imaginávamos que era assim que muitos de nós veríamos os outros na maioria das situações da vida?
As obras aqui exibidas foram produzidas pelas participantes e pelo participante do curso VIDEOLATINAS. A maioria dos vídeos foram realizados durante o ano de 2021 e apresentados pelas/o artistas ao final de nossos encontros. Apesar de serem trabalhos muitos diversos, é possível perceber um diálogo intenso com a historiografia das artistas latinoamericanas que utilizaram o vídeo. Há ainda muitos pontos de convergência entre essas obras, mas o principal é que todas mostram o corpo. Para que não nos esqueçamos do nosso próprio corpo.
O corpo se faz presente nesses vídeos (seja o das artistas ou de outrem): ora ele está desnudo, ora se veste, ora se apresenta no espaço fechado e delimitado, ora em um local completamente aberto... Quando não vemos corpos completos, os vemos fragmentados, normalmente as mãos ou a cabeça. Esses recortes dialogam com boa parte da produção em vídeo de artistas latinoamericanas, como Sonia Andrade, Nela Ochoa, Ana Mendieta ou Letícia Parente. O corpo é de certa forma central quando pensamos na experiência em vídeo das artistas latinoamericanas.
Se acreditarmos no velho alemão Hans Belting, com sua noção de que, a despeito dos meios técnicos empregados, toda percepção é ligada ao corpo, podemos pensar em uma troca entre o corpo das artistas no vídeo e o corpo de quem está vendo essa exposição, aí, do outro lado da tela e dos impulsos eletrônicos. Como seu corpo percebe as imagens desses corpos aqui? Como seu corpo se sente ao ouvir o som que estes corpos produzem?
Numa vida fechada em telas, essas obras oferecem uma valiosa possibilidade de pensar a percepção do corpo diante das mesmas. Um convite a perceber-se e, quem sabe, pegar uma câmera, um celular e registrar-se a si mesma/o/e... V-I-D-E-O-G-R-A-F-A-R - S-E
Khadyg Fares e Vivian Berto
Mostra presencial no Edifício Vera
De 18.12.2021 a 15.01.2022
Rua Álvares Penteado, 87 | 5º andar
Centro histórico | São Paulo SP
Sessões:
De quarta a sexta
Parte 1 • 09h e 16h
Parte 2 • 10h30 e 17h30
Aos sábados
Parte 1 • 10h e 14h
Parte 2 • 11h30 e 15h30
Obras
Parte 1
Camila Fontenele | Eu, Baleia | 2018 | 3:59
Camila Fontenele | Reza | 2018 | 2:36
Danilo Reis | Preparação | 2021 | 2:00
Beatriz Toledo | Cujalma | 2019 | 1:50
Sabrina Xavier | Para crianças pobres 2000 foi 90 | 2021 | 29:24
Fernanda Pujol | Caí e não sei quem eu sou | 2016 | 2:47
Manuela Leite | Performance doméstica | 2019 | 1:08
Maíra Freitas | A colher, a peneira e o tempo | 2021 | 3:31
Carla Chaim | Sem título (Folha) | 2019 | 15:53
Márcia Beatriz Granero | Minada | 2015 | 2:19
Beatriz Toledo | Anacronia | 2019 | 3:40
Parte 2
Maíra Freitas | Solo da maternagem solo | 2021 | 5:42
Emy Lobo | MARIELLE, PRESENTE! - Manifesto Rosa de Luta | 2018 | 3:25
Gabriela De Laurentiis | Fios | 2016 | 3:30
Helena Marc | Entretelas | 2021 | 17:22
Márcia Beatriz Granero | Jaque em casa | 2020 | 9:59
Maíra Freitas | Fazer arder a norma | 2021 | 20:41
Bianca Turner | Uma | 2018 | 8:35
Danilo Reis | Terra-mãe | 2021 | 4:04
Luisa Sequeira | Limite | 2021 | 1:20
Railane Matos | Eu sou todas elas | 2021 | 0:27
Beatriz Toledo | Uroboro | 2019 | 2:26